sexta-feira, fevereiro 06, 2009















Saint Meryl
(Do Guia – O Estado de S. Paulo – de 06/02)

Há muitas razões por que você deveria ver Dúvida (Doubt, 2008) antes de se preocupar em assistir a O Leitor, o filme indicado ao Oscar que também estréia hoje (6), e a mais evidente delas se chama Meryl Streep. Muita gente se aborrece com o status de 'melhor atriz americana viva' que Meryl tem (e que já lhe rendeu glórias por performances pouco interessantes), mas a força de seu novo trabalho faz valer todas as 15 indicações ao Oscar que ela já recebeu.

No filme do dramaturgo John Patrick Shanley (vencedor da estatueta pelo roteiro de Feitiço da Lua, de 1987), a atriz vive uma freira que comanda uma escola católica do Bronx, nos anos 60. Conservadora e convicta (de seus métodos e sua fé), Aloysius Beauvier acredita que alunos disciplinados são conquistados com intimidação. Ela não vê com bons olhos, portanto, os sermões – atentos às ansiedades da comunidade – das missas do padre Flynn (Philip Seymour Hoffman). Quando uma de suas subordinadas (Amy Adams) levanta suspeita de que ele possa ter molestado um aluno, ela começa uma cruzada para expulsá-lo da escola, ainda que não tenha provas do crime.

Não é só a performance estóica de Meryl, porém, o que faz de Dúvida a estréia mais interessante desta temporada do Oscar até agora (ao lado de Batman - O Cavaleiro das Trevas). Baseado em uma peça escrita e encenada por Shanley em 2005, o longa é uma vigorosa parábola moral que nada tem a ver com religião – ou com a época em que tudo se passa. Saber se o padre tem culpa não é a questão: seu tema é a instalação da incerteza (e suas conseqüências). Trata-se de uma adaptação franca, que não reivindica para si nenhum status de grande filme: são bons diálogos, ditos por bons atores, sob o olhar de uma câmera cuja tarefa é decidir para qual deles deve olhar e em que momento. Um prato cheio para Meryl, Hoffman, Amy e Viola Davis (indicados ao Oscar, assim como o roteiro).
















Indicado a cinco Oscars e favorito na categoria de melhor atriz, O Leitor (The Reader, 2008) fala de um jovem alemão que tem um caso, nos anos 50, com uma mulher mais velha, para quem ele passa a ler romances em voz alta. Mas ela logo some e eles só se revêem anos depois, em um tribunal, onde a mulher (que havia colaborado com os nazistas) está sendo julgada pela morte de prisioneiras judias. Baseado no livro de Bernard Schlink, o filme de Stephen Daldry (de As Horas) resvala em vários temas: o Holocausto, o embate entre moral e lei, as feridas da Alemanha e o poder da literatura. Mas trata-se mesmo de uma história sobre uma dupla penitência, que poderia ter qualquer pano de fundo – e que ganha força pelo fato de que um dos penitentes é uma atriz adorável como Kate Winslet. Ela usa maquiagem pesada e diz seu texto com voz rouca, o que parece ser uma predileção de Daldry. Por que a sua personagem é a única alemã do filme que fala inglês com sotaque, porém, é algo inexplicável.

2 Comments:

Blogger Giovani said...

Rafa, me explica o porquê de batman ser a estréia mais interessanta da temporada do oscar? E Milk, não te anima?

10:17 PM  
Blogger paralaxe said...

gosto disso de ele usar a estrutura de filme de super-herói (que ninguém respeita ou aproveita) à maneira dos velhos westerns – para falar de questões contemporâneas, dar forma a pontos de vista sobre o mundo como ele é hoje. é um filme de 2008 (e quantos filmes de 2008 são de 2008?). e é o contrário de alguns desses filmes do oscar que usam formas supostamente sofisticadas para disfarçar melodramas pouco honestos. (o que há de interessante em ver a kate winslet sofrer?) não sei se gosto do que o filme diz, mas me interessa, pelo menos. não te interessou?

vou ver milk na segunda e te conto.

8:45 AM  

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