segunda-feira, janeiro 26, 2009
















Troco O Leitor inteiro por cinco ou seis minutos de Austrália.

Nunca é demais
(Do Guia – O Estado de S. Paulo – de 23/01)

Se você viu Moulin Rouge! ou Romeu + Julieta, sabe que o diretor Baz Luhrmann não é de meios-termos. Seus filmes são extravagantes, exagerados, misturam sem cerimônia referências pop e eruditas e não se impõem limitações formais. Parecer cafona, para ele, não é um problema – é um princípio. Há quem o ame e quem o odeie por isso, mas você não precisa decidir se Luhrmann é um autor raso ou gênio pós-moderno para ver Austrália (2008).

O diretor não mudou, é verdade: seu novo drama é feito de movimentos de câmera mirabolantes, fotografia exuberante, personagens com poderes mágicos, uma Nicole Kidman com jeito de Katharine Hepburn e um aborígine que canta Over the Rainbow (de O Mágico de Oz).

Desta vez, sua histeria formal anda, porém, sob os trilhos de uma estrutura tradicional. O filme tem a forma dos melodramas épicos dos anos 40 e 50. (Mais Uma Aventura na África na primeira metade, mais ...E o Vento Levou na segunda.) Nicole interpreta uma aristocrata inglesa que vai à Austrália, em 1939, e tem de defender sua fazenda de gado de um criador local que não quer concorrentes. Isso exige que ela conduza a boiada pelo interior do país – com a ajuda de um vaqueiro vivido por Hugh Jackman e um garoto mestiço que é neto de um feiticeiro aborígine.

Acontece muito, muito mais do que isso antes que os 165 minutos do filme acabem, mas tudo serve a uma história de amor de regras bem antigas. Ao exagerá-las, porém, Luhrmann constrange todos os filmes que preferem esconder estruturas envelhecidas sob embalagens supostamente sofisticadas (como muitos dos que estarão na festa do Oscar). Você pode entendê-lo, portanto, como o filme retrógrado mais caro ou a declaração de amor ao cinema mais ousada (e cafona) do ano. Só não deixe que o convençam de que não vale a pena assisti-lo.