domingo, agosto 31, 2008
















O passado e o passado de Arriaga

The Burning Plain usa a montagem que avança e retrocede no tempo que caracteriza os filmes de Alejandro Iñárritu escritos por Guillermo Arriaga – que faz sua estréia na direção. Mas Arriaga não a utiliza com os mesmos objetivos do diretor de Babel. Inãrritu varia tempos narrativos (e pontos de vista) de modo a simular que seu filme é um espelho perfeito do mundo. Já Arriaga só está interessando no mundo de Mariana (Charlize Theron), sua protagonista.

A garota administra um restaurante nos EUA, mas tem um passado pesado da época em que vivia perto da fronteira com o México – e que volta para prestar contas. Isso tudo que ficou para trás nos vai sendo contado desde o começo do filme, mas só começa a se esclarecer lá pela metade do longa. Essa insistência da montagem em reconstruir o passado faz lembrar a maneira como Tommy Lee Jones montou a primeira metade de Três Enterros, também escrito por Arriaga. Naquele caso, a montagem ia e vinha até que o crime do início do filme fosse esclarecido. A partir daí, seguia linear. Era uma maneira de deixar claro que era necessário repassar o passado para entender o presente. Mas ali esta idéia servia a um raciocínio maior, já que Jones e Arriaga estavam falando da relação dos EUA com o mundo. A forma do filme servia a um tema específico.

Neste caso, porém, é o tema que serve à forma. A história de Mariana – que, aliás, é bastante banal – poderia ser qualquer outra. Contada da forma que Arriaga decidiu contá-la, toda história diria o que diz The Burning Plain: que o passado tem um peso. Não é muita coisa, mas Arriaga foi o diretor do primeiro filme da competição de Veneza a usar a linguagem de forma assertiva. (Kiarostami e Claire Denis exibiram seus filmes fora da competição.) Este é, portanto, o longa apresentado até agora que tem a direção mais forte – no sentido de que fica claro que foi feito por um diretor. O que mostra o quanto este festival está carente de bons filmes.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pô Rafa, só UM post sobre UM filme por dia não sacia os leitores ávidos.
Vê se faz menos passeios românticos de gôndola e assiste mais filmes, né ;)

7:04 PM  
Blogger paralaxe said...

é que tem a praia, tem veneza e tem os filmes, rs. é coisa demais, né, severo... me esforçarei!

8:37 AM  

Postar um comentário

<< Home