terça-feira, setembro 02, 2008












Alguns jornalistas aqui em Veneza estão dizendo que Birdwatchers, o filme do italiano Marco Bechis sobre índios brasileiros, pode muito bem ser o premiado pelo júri. Não consegui vê-lo (pois inventei de tentar assisti-lo na sessão oficial, que já estava lotada), mas não me incomodaria se o vencedor fosse Paper Soldier, o longa do russo Alexey German Jr. que foi apresentado ontem à noite para a imprensa. O filme tem como protagonista um médico que trabalha para a primeira equipe de cosmonautas russos, em 1961, e que vai enlouquecendo à medida que compreende a loucura que é o projeto espacial de seu país.

O filme é uma tijolada: narradas em leve tom de delírio, as cenas são construídas por planos-seqüências muito fechados, que vão passeando entre os rostos de seus personagens. Há sempre muitos deles em cena e todos falam freneticamente (e em russo!), um pouco ao mesmo tempo, em um nível que beira a histeria. E difícil de acompanhar (e também de entender), mas é um filme que usa a linguagem de maneira consciente – o que tem sido raro aqui em Veneza. Não seria constrangedor se fosse embora com o leão na mão.