segunda-feira, janeiro 19, 2009


Dúvida cruel
(Do Guia – O Estado de S. Paulo – de 09/01)

Sem palavra equivalente na língua portuguesa, ‘changeling’ é o termo em inglês usado para designar uma criança que foi trocada. É um caso assim que serve de motor para o novo filme de Clint Eastwood – originalmente ‘Changeling’, mas rebatizado aqui como A Troca. Angelina Jolie interpreta Christine Collins, uma mulher cujo filho de nove anos desaparece no fim dos anos 20, em Los Angeles.

Cinco meses depois, os policiais dizem tê-lo achado, mas Christine tem certeza de que não se trata do garoto. Ela passa a lutar para que a polícia volte a ajudá-la, mas a corporação é administrada de forma arbitrária por oficiais corruptos, que não têm interesse em admitir seu erro – e começam a desqualificar a opinião da mãe.

Esta parte da trama (baseada em um fato real) só cobre, porém, os primeiros de seus 141 minutos e não dá conta de descrever o filme. A Troca avança rapidamente, mas demora a chegar a algum lugar. Seus primeiros dois terços se desenvolvem como um melodrama maniqueísta. Christine tem seu sofrimento progressivamente agravado pelos desmandos da polícia até chegar a uma situação-limite. Em seguida, o filme promove a avalanche justiceira que um final conciliador exigiria.

Passados crimes e castigos, porém, Christine não encontra a redenção. E é aí, na sua terceira parte, que o filme revela suas intenções. Ao prolongar o drama de sua personagem (e deixar seu destino em aberto), Eastwood põe o tempo em perspectiva e abre seu filme ao futuro. Não vai faltar quem o relacione com o momento político atual dos EUA, pode apostar. Tirar as suas próprias conclusões exigirá, porém, que você faça este caminho – nem sempre entusiasmante – junto com Christine, guiado pelo olhar (generoso, conservador e elegante) de Eastwood.