quarta-feira, setembro 03, 2008
















Dois casamentos

Não tinha lido nada sobre Rachel Getting Maried e achei que o filme de Jonathan Demme com Anne Hathaway fosse só uma comédia convencional, selecionada sabe-se lá por que para o festival, como tantos outros filmes que têm passado por aqui. Mas não é comédia e nem é convencional. É a história de uma garota que volta à casa do pai para o casamento da irmã, mas leva junto todos os assuntos familiares que ficaram mal resolvidos desde que ela foi embora – que vão explodindo, um por um, enquanto a cerimônia vai sendo preparada. Ela tem problemas com drogas, a mãe (que é Debra Winger) é ausente, a irmã quer que ela seja o que ela não é – e por aí vai.

Entusiasmado com a franqueza do roteiro de Jenny Lumet (que é filha do Sidney), Demme decidiu encenar tudo com câmera na mão, seguindo a ação dos atores, como se estivesse fazendo “o mais belo vídeo caseiro já filmado”, em suas palavras. O resultado é interessante, mas é muito, muito parecido (tanto na forma como no tema) com Margot e o Casamento, o último filme de Noah Baumbach – em que Nicole Kidman tinha de ir à cerimônia de Jennifer Jason Leigh. Como só quatro ou cinco pessoas assistiram ao filme, porém, é bem possível que o júri nem saiba disso. (No Brasil, ele foi lançado direto em DVD.) Na sessão para a imprensa, os jornalistas, que aplaudiram muito, pareciam empolgados.

O interessante é que Baumbach inspirou-se em Eric Rohmer (e o seu Pauline na Praia) para construir seu filme, enquanto que Demme diz ter partido de Robert Altman. Margot e o Casamento é um filme melhor, até porque foi fotografado por Harris Savides (de Elefante), que sabe que esta história de ‘vídeo caseiro’ é uma grande bobagem. Mas o fato é que ele não é um Rohmer, assim como Rachel não é um Altman. São filmes de dois diretores americanos que estavam procurando uma linguagem que se relacionasse de forma mais direta com o mundo – e que chegaram mais ou menos ao mesmo lugar.

Nenhum dos dois consegue extrair de sua linguagem (feita de câmeras na mão e foco nos atores) os efeitos que ela produziu nas mãos de outros diretores – de Cassavetes ou Godard aos Dardenne. Mas ver Nicole Kidman ou Anne Hathaway movimentando-se sob uma luz menos dura não deixa de ser algo interessante, sem dúvida.

Na coletiva, alguns jornalistas enxergaram uma relação do filme com o momento político nos EUA. É que o noivo de Rachel é um negro e, enquanto a família da noiva se debate, a do rapaz canta, dança, promove a integração geral. Demme garantiu que não tinha pensado nisso – e que sua primeira escolha para o papel do noivo era o diretor Paul Thomas Anderson (!?), que mudaria muito a configuração das coisas se tivesse aceitado o convite. Jenny também disse que não tinha pensado no assunto, mas tanto ela quanto o diretor concordaram, na hora, que a metáfora fazia sentido – e saudaram Barack Obama com aplausos. Alright.