So it's Oscar season... Foi Apenas um Sonho, O Curioso Caso de Benjamin Button e O Leitor me parecem, no fim das contas, uns elefantões disfarçados. Que delícia então ver Dúvida, um elefante relevante e sem disfarce nenhum. E que Milk e Slumdog Millionaire venham nos salvar.


Outro caminho
(Do Guia – O Estado de S. Paulo – de 30/01)

Se Kate Winslet vencer mesmo o Oscar de melhor atriz deste ano por sua performance em O Leitor, a Academia terá perdido a oportunidade de premiá-la por um trabalho muito mais interessante. Não quer dizer que Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, 2008), o novo filme de Sam Mendes (de Beleza Americana), seja assim tão melhor do que o drama enfadonho de Stephen Daldry. Neste caso, porém, não há excesso de maquiagem, nem sotaques constrangedores (no filme de Daldry, ela interpreta uma alemã que colaborou com os nazistas): sua personagem é alguém em quem podemos acreditar sem esforço.

Reunidos pela primeira vez depois de Titanic (1997), Kate e Leonardo DiCaprio interpretam um casal frustrado que mora em um subúrbio de Connecticut, nos anos 50. Seu modo de vida segue as convenções sociais da época: Frank (DiCaprio) é um funcionário de escritório, April (Kate) cuida dos filhos e da casa. Os dois acreditam, porém, que poderiam levar uma vida mais livre e interessante, longe das limitações de sua rotina, e decidem se mudar para Paris – a cidade onde as pessoas são vivas, acredita Frank.

Baseado no primeiro romance de Richard Yates, de 1961, o filme narra o que acontece quando a dupla começa a pôr o plano em prática – e seu desejo de liberdade é desafiado pelo medo de abrir mão da segurança e da estabilidade que são caras à sua geração. Mendes conduz o longa de uma forma convencional, mas também virtuosa (seu filme é, afinal, sobre a força da convenção), o que abre espaço para que DiCaprio e Kate exibam suas performances. Não foi suficiente, porém, para que a Academia o indicasse a mais do que três estatuetas (ator coadjuvante, direção de arte e figurino).