domingo, janeiro 27, 2008
















Vi Ma Mère (2004) pela primeira vez hoje e fiquei com a impressão de que ele tem todos os defeitos de Em Paris – mas nenhuma de suas qualidades. Honoré me parece imerso no esforço iconoclasta responsável pelos momentos mais fracos de seu filme seguinte. Mas ele ainda não se serve dessa iconoclastia para justificar uma liberdade formal que o faça ir de encontro àquela “verdade” de que ele falava no texto ali de baixo. Ao contrário do que acontece em Em Paris e em Canções de Amor, o roteiro está ali para sustentar essa estridência de sua estrutura – e não para se aproveitar dela. O resultado é que os choques formais do filme acabam não tendo outra função do que serem isso mesmo – choques. Não que eles esgotem o que as imagens podem ter de interessante. O filme tem belos planos e algumas cenas muito bem-construídas. Acho linda, por exemplo, a seqüência em que Garrel corre na chuva e Huppert o espera, de frente para o mar, ao som de Cindy Lauper. Ou a maneira como é estruturada a cena em que ele reza nas dunas, a partir dos olhares dos turistas. (Ou toda a seqüência final – ainda que o descompasso entre o tom da canção dos Turtles e o da cena me pareça ser, de novo, só um esforço iconoclasta.) Mas todas elas têm efeitos isolados, que não têm implicâncias de linguagem mais interessantes. Essa mise-en-scène da superfície acaba aproximando o filme de certo cinema francês contemporâneo (de câmeras na mão e planos plasticamente belos) que reivindica sem muita propriedade o título de autoral – e do qual Honoré, por sorte, já se afastou.

1 Comments:

Blogger Guga Pitanga said...

Ainda não assisti "Ma mère", e se o fizer, será por mera curiosidade. Esta semana escrevi sobre o "Across the Universe".
Abço.

http://lenfantdeboheme.blogspot.com/

2:51 AM  

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