Prefiro acreditar que Redacted (2007) não é uma colagem de recriações naturalistas de filmes documentais. Como em seus outros filmes, De Palma estrutura suas imagens de modo a deixar claro que elas são imagens – há um certo artificialismo em sua construção. Passam longe da emulação virtuosa da linguagem de documentário que fazem os “mestres” do novo naturalismo (como Greengrass ou Winterbottom). Alguns amigos acham que é uma contradição que escapa às intenções da obra. De Palma quis fazer um mosaico de vídeos naturalistas, mas esbarrou nas suas limitações, no seu traço autoral. Se for isso, Redacted não passa de um filme-denúncia contraditório (e um tanto cafona). Acho que não é. Suas imagens me parecem, como sempre, propositalmente "artificiais". Tenho a impressão de que De Palma está outra vez brincando de construí-las e dividindo o seu fascínio pelo processo com o espectador. De onde vem o fascínio? Em Dália Negra, ele já sugeria que interessar-se por cinema era ter uma espécie de obsessão mórbida. Mas ali ainda era de um jeito otimista, na medida do possível – uma celebração já meio decadentista dessa obsessão, mas ainda assim uma celebração. Redacted é o outro lado da história. Mas um pouco como Scorsese, que é obcecado pela violência, mas não consegue analisá-la de forma distanciada, De Palma também não é capaz se afastar muito para refletir sobre a construção de imagens. Tenho a impressão de que o filme todo está ali em função daquele plano final do corpo da garota, tão estilizado e parecido com uma das imagens finais de Dália Negra – e tão caro ao diretor. É ali que ele diz que não é diferente de seus personagens (e que provavelmente nós também não somos). É um plano bem corajoso – e honesto. Se De Palma continua legal mesmo quando decide falar sério? Isso eu também não sei.