segunda-feira, setembro 04, 2006
















Eu vejo shyamalans

Acho que foi quando vi os tartutics que minha opinião sobre M. Night Shyamalan mudou. Assisti aos três primeiros quartos de A Dama na Água (Lady in the Water, 2006) pensando: "Desculpa, Mr. Night, mas não vai dar. Não sou nem tão crente nem tão cínico pra entrar nessa." Mas aí veio aquela história de curandeiro, guardião, irmandade, o menino que lê as coisas nas caixas de cereal, a cena (inacreditável!) em que eles curam a ninfa e, por fim, os tartutics. Então comecei a achar que talvez fosse mais uma questão de crença mesmo; que ele de fato acredita demais naquilo tudo – e acredita que a gente também pode acreditar. E um ponto de vista tão crente, uma vez desprovido de qualquer tipo de cinismo, se torna comovente. Sim, os tartutics me comoveram.

Não que isso seja suficiente pra abraçar sua concepção de cinema. Para isso seria preciso comove-me com a fábula e não com o esforço de seu narrador – o que não é o caso. Além disso, continuo a achar que o tipo de simbolismo com que ele trabalha – se é que trabalha – só faz sentido quando é usado para fazer a realidade "andar". Quer dizer, só vale a pena transformar o mundo em símbolos se eles, quando confrontados, levam a uma situação – simbólica e estética – que joga uma luz nova sobre aquilo a que se referem. Se é só pra representar de forma alegórica uma situação que existe antes do filme, ele acaba virando mais um exercício de adivinhação do que de revelação. A Vila está todo no primeiro caso; A Dama na Água eu já não sei bem.

Se o filme é uma alegoria sobre a redenção da história, isso é um problema. Se for mesmo sobre a redenção da ficção (ou pela ficção), provavelmente não. Mas aí penso em outros autores que também são apaixonados pela ficção e que a encaram de forma diferente. Penso em De Palma – como sempre – e no quanto, para ele, ela só pode ser entendida como uma construção. Quer dizer, tanto a narrativa quanto a imagem só funcionam na medida em que não acreditamos nelas. (Que acho que também é uma visão desprovida de cinismo, só que bem mais lúcida.) E penso, claro, em Spielberg, Peter Jackson e até no Irmãos Grimm de Terry Gilliam, em que a fantasia funciona tão bem porque não há espaço para questioná-la.

A vantagem, nesse caso, é que o pacto que exige que o espectador simule certa ingenuidade está velado. Shyamalan o revela – sua fábula é frágil como o povo do mundo azul –, para depois tentar restitui-lo. (De Palma também o revela, mas sabe que restitui-lo é loucura.) Esse indiano é de fato corajoso. Só posso desejar que ache seus próprios tartutics para protegê-lo.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

continuo lendo teu blog, e lembrando que te devo uma cópia do meu curta.
melhor esperar sair o novo e te dou um dvd duplo.
que anda fazendo?

abraço,
murilo hauser

9:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

sholomelaiah não dá!
prefiro ler zíbia gasparetto.

10:55 AM  

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