terça-feira, fevereiro 20, 2007
















Minha lista de 10 melhores do ano só tem nove filmes. Que coisa. É verdade que pouco tem me empolgado, mas já que não fui a Cannes, Berlim, Veneza e nem São Paulo em 2006, talvez seja uma questão de quantidade mesmo. Para não perder essa rara chance de pôr ordem no mundo, vou aderir ao critério da contracampo, que está usando uma lista dos filmes lançados comercialmente no Brasil em 2006 para eleger os seus preferidos. Os filmes que estão ali que mais me interessaram foram esses.

1. Caché (2005) – Michael Haneke
Professor Haneke sabe tudo. Prepotente (porque acredita que pode controlar seu filme como quem prepara um bolo), didático (porque inclui na estrutura do filme a receita do bolo) e genial (porque escancara sua prepotência e seu didatismo e os coloca a serviço de uma reflexão sobre cinema e culpa.)

2. A Criança (L’Enfant, 2005) – Jean-Pierre e Luc Dardenne
Os Dardenne, por outro lado, não sabem muita coisa.
Mas têm olhos atentos.

3. O Plano Perfeito (Inside Man, 2006) – Spike Lee
O Double Indemnity do século XXI. Tanto no que retoma a ética do ladrão que rouba ladrão, como no que resgata da estratégia daqueles diretores que o Scorsese chamou de “contrabandistas” – que falam da vida fingindo que estão falando de qualquer bobagem. Clive Owen é um Walter Neff que se dá bem e Denzel Washington é um Bogart que termina com um diamante no bolso. Billy Wilder iria adorar.

4. O Sabor da Melancia (The Wayward Cloud, 2005) – Tsai Ming Liang
Os personagens de Tsai passaram anos sem abrir a boca. Agora eles cantam. E a câmera se move. Wow.

5. Dália Negra (The Black Dahlia, 2006) – Brian de Palma
A verdade é uma balela, mas a ilusão também é. Uma femme fatale ainda engana quem, além do Christopher Nolan? Se Shyamalan se deprime com a perda da inocência, De Palma, velhinho lúcido e bem-humorado, prefere celebrar o defunto. Generoso, não se contenta em convidar o espectador para o funeral. Quer todo mundo preparando o corpo junto. Um espírito de porco, certamente; mas um cínico, nunca.

6. Volver (2006) – Pedro Almodóvar
Depois de três testemunhos definitivos sobre o que acha de homens, de mulheres e de cinema, o que resta a Almodóvar se não repetir-se? Mas Volver está para a sua obra como Mulholland Dr. está para a de Lynch; não como 2046 está para a de Wong Kar Wai. Repetir-se aqui significa dizer a mesma coisa de um outro jeito – e não dizer a mesma coisa gritando. Ouvir continua interessante.

7. O Guardião (El Custodio, 2006) – Rodrigo Moreno
O plano final do ano.

8. Os Infiltrados (The Departed, 2006) – Martin Scorsese
Fico pensando que o risco de tentar ser o Scorsese – ou o Clint – hoje é acabar sendo o Iñarritu. Concordo com o Merten quando ele diz que esse filme é a sublimação da lógica do cinemão. Mas o que essa lógica tem de contraditório só fica evidente – e interessante – na sua sublimação, não? Scorsese não é mesmo exceção em Hollywood – foi ele quem inventou a mise-en-scène pós-moderna desse cinemão, afinal. Mas ele é, sim, o que Hollywood tem de melhor.

9. Estrela Solitária (Don’t Come Knocking, 2005) – Wim Wenders
Os fãs odiaram, eu adorei. Eles queriam Paris, Texas, mas Paris, Texas em 2005 não dá mais, dá? O que dá é pra voltar a fazer um filme que se esforça em extrair seu tema da estrutura de suas das imagens. Para quem vinha de um filme como Medo e Obsessão, em que a imagem não vale nada, é uma mudança, de qualquer forma.

10. Brokeback Mountain (2005) – Ang Lee
Um diretor invisível, uma narrativa imensa, uma estrutura convencional, personagens levados a sério. Ok, isso ainda funciona, então.


E mais esses:
11. O Novo Mundo (The New World, 2005) – Terrence Malick
12. Três Enterros (The 3 Burials Of Melquiades Estrada, 2005) – T.L. Jones
13. Boa Noite e Boa Sorte (Good Night And Good Luck, 2005) – G. Clooney
14. Família Rodante (Familia Rodante, 2004) – Pablo Trapero
15. O Céu de Suely (2006) – Karim Aïnouz
16. Syriana (2005) – Stephen Gaghan
17. A Lula e a Baleia (The Squid And The Whale, 2005) – Noah Baumbach
18. A Dama na Água (Lady In The Water, 2006) – M. Night Shyamalan
19. Reis e Rainha (Rois Et Reine, 2004) – Arnaud Desplechin
20. 2046 (2005) – Wong Kar-Wai

21. O Tempo que Resta (Le Temps Qui Reste, 2005) – François Ozon
22. Um Casal Admirável (Un Couple Epatant, 2002) – Lucas Belvaux
23. Acordo Quebrado (Après La Vie, 2002) – Lucas Belvaux
24. Em Fuga (Cavale, 2002) – Lucas Belvaux
25. Eleição (Election, 2005) – Johnny To
26. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) – J. Dayton e V. Faris
27. A Última Noite (A Prairie Home Companion, 2006) – Robert Altman
28. Árido Movie (2005) – Lírio Ferreira
29. O Amor em Cinco Tempos (5x2, 2004) – François Ozon
30. Crime Delicado (2005) – Beto Brant

5 Comments:

Blogger Unknown said...

Rafael, bom deve ser discordar de você! Rs.

3:16 PM  
Blogger eloisegrein said...

Tudo bem, podemos até achar que o Alejandro González Iñárritu tenha pretensões difíceis de realizar mas não dá pra negar que ele fez bons filmes nas três tentativas ("Amores Brutos", "21 gramas" e "Babel")...

6:22 PM  
Blogger krelid said...

infelizmente o peso da lista aumenta mesmo nas idas às mostras. depender do circuito são três pontinhos...

9:57 PM  
Blogger Ledier said...

caché é incrível.
lista boa, né, menino?
e qd vc muda pra sampa?
até!
ledier

9:41 AM  
Blogger Katia K. said...

Oi, Rafa! Vi seu blog nos links da Janie e adorei :-)
Parabéns, é praticamente um serviço de utilidade pública, hehe.
Beijos!

7:31 AM  

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