domingo, dezembro 03, 2006















Se para todo Carlos Sorin existisse um Rodrigo Moreno, ver filmes argentinos seria uma atividade bem menos tensa. Moreno não vê poesia nenhuma em gente comum – e nem as filma como se fossem formigas exóticas que precisam ser protegidas. Em O Guardião (El Custodio, 2006), sua câmera é uma subjetiva indireta posicionada ao lado – não acima – de Rubén, seu protagonista. Se há algo de poético no filme, está na forma como os dois olhares se identificam – e como Moreno usa a condição do outro pra falar dele mesmo.(São lindos os planos em que ele filma o segurança de dentro do carro e o observa do ponto de vista que originalmente é do personagem.) Como também é linda a maneira como finalmente os olhares se afastam, no plano final – e a liberdade conquistada pelo personagem não é permitida à câmera. Uma beleza (e uma tristeza.)

(Reli este parágrafo hoje, 9 de outubro de 2007, dez meses depois de escrevê-lo, e percebo que estava enganado sobre essa história de “subjetiva indireta”. O filme só é o que é porque a câmera NÃO é uma subjetiva indireta. É outro corpo, outra presença – que identifica-se com o personagem, mas é estranho a ele. Não pode prever seus atos e não controla o seu “tempo”. É desse “intervalo” - simulado - que vem o que o filme tem de interessante. Tenho que voltar a isso.)

...................

Se para todo Walter Salles existisse um Karim Aïnouz, ver filmes brasileiros seria uma atividade bem menos tensa. É certo que O Céu de Suely (2006) não tem a sofisticação formal do filme de Moreno, mas seu olhar também não é paternalista. Se não pode andar sobre os passos de suas mulheres, ele prefere caminhar ao lado delas. (Seu interesse por elas é igual ao nosso.) Uma beleza também, a seu modo.