sábado, janeiro 26, 2008















Nascido e Criado
(Do Guia – O Estado de S. Paulo – de 25/01)

Sorte de Vito Corleone (o mafioso de O Poderoso Chefão) que em seus filmes não existia um policial incorruptível como Richie Roberts – destes que se recusam a embolsar US$ 1 milhão em dinheiro sujo para não trair seus princípios. A família do italiano não teria mantido o seu império por três longas-metragens se ele estivesse por perto. Frank Lucas, o primeiro negro a comandar em níveis empresariais o tráfico de drogas em Nova York, nos anos 70, não teve a mesma sorte. Nascido no Harlem, ele aprendeu quase tudo o que precisava com os mafiosos que foram modelo para o personagem de Francis Ford Coppola – que deveria manter uma vida discreta, corromper a polícia (e o exército), ser implacável com os inimigos e levar a mãe à igreja de vez em quando. Mas não poderia ter aprendido sobre Richie.

Baseado no relato de Mark Jacobson sobre o traficante (Gângster Americano), O Gângster (American Gangster, 2007) faz uma associação parecida com a de O Poderoso Chefão ao ligar os métodos da máfia aos dos grandes impérios capitalistas. Mas coloca um ponto final em seu raciocínio ao transformar o seu 'mocinho' (Russell Crowe) no homem capaz de limpar NY de todos os seus criminosos e policiais corruptos. Depois dele, o mundo passou a ser dos bons, diz Ridley Scott. É o oposto de Os Infiltrados, de Martin Scorsese – para quem os 'bons' e os 'maus' se misturam e se confundem. Se Lucas não aprendeu sobre Richie com os italianos, Scott poderia ter aprendido algo sobre filmes de mafiosos com Coppola. Mas este talvez não seja um filme sobre gângsteres – e sim sobre policiais. E se o personagem de Crowe deve ser tomado como exemplo, aos policiais parece mesmo faltar certa noção de estilo.