
Eu sei tudo, professor
Se o mundo do cinema fosse uma grande high school, Soderbergh seria aquele aluno nerd que tira 10 em todas as matérias e se orgulha em ser o peixinho dos professores. Sabe de cor todas as fórmulas de física, as regras de gramática e as datas dos fatos históricos mais importantes. Mas não gosta de nenhuma dessas coisas – gosta é de ser o mais elogiado.
Não sei bem quem é o professor para quem ele está se exibindo em Bubble (2005), mas a matéria que ele ensina deve se chamar "Filme Contemporâneo com Traços Bressonianos". É uma disciplina bem freqüentada: Bruno Dumont e os Dardenne também assistiram às aulas, mas não devem ter tirado notas muito boas porque resolveram "reinventar" um pouco aquilo que aprenderam.
Não é o caso de Soderbergh, que, descontado o "excesso" de planos gerais (que não por acaso são o melhor do filme), seguiu as regras direitinho: usou atores não-profissionais, evitou psicologismos, economizou na estrutura e até fez sua personagem principal ter uma "revelação" na cena final. Só esqueceu, assim como seu colega da high school, que decorar fórmulas como um fim em si não serve pra nada. Ainda mais no caso de uma forma bressoniana, que tem como objetivo atingir o que está atrás dela – e não é visível.
Sem outra motivação pra existir que não o elogio da própria estrutura e, portanto, obcecado pelo visível e alheio ao potencial de sua linguagem, é natural que o filme se perca no terreno da ironia. A ponto de a "revelação" final ter um tom tão jocoso que é impossível saber o quanto há de cinismo e de seriedade na proposta. Entre um Bresson raso e um irmãos Coen sem colhões, sobra mais um filme sobre como Soderbergh sabe (ou não sabe) fazer filmes. Melhor: sobre o fato de que Soderbergh faz filmes. Preguiça.

1 Comments:
Puxa vida, eu gostei de Bubble.
Pior foi que ninguém dos meus amigos gostou também.
aff
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